Guia do facilitador no planejamento participativo

facilitators_guide Este livro é um dos melhores que eu já li sobre métodos participativos. Escrito de uma forma muito simples, com muitos gráficos que facilitam o entendimento dos pontos de vista apresentados, o livro “Facilitator’s guide to participatory decision-making“, de Kaner et al (1996), dá uma geral sobre o processo participativo, destacando suas etapas e algumas ferramentas a serem utilizadas.

Kaner et al argumentam que um processo participativo de tomada de decisões deve envolver três fases:

planejamento participativo


Na Zona Divergente deve-se buscar ampliar os elementos com os quais se trabalha, sem a preocupação em avaliar se são pertinentes ou não, nem de estruturar as informações para melhorar o entendimento. Essa etapa constitui-se de três atividades principais: reconhecer o território, na qual os diferentes pontos de vista são coletados; buscar alternativas, na qual possíveis soluções não usuais são procuradas; e coletar pontos problemáticos, na qual deve ser estimulada a opinião acerca dos pontos mais ameaçadores com relação ao assunto que está sendo discutido.

Em outras palavras, é uma etapa em que deve-se estimular o livre pensamento sobre o assunto, na forma de brainstorm, sem atitude crítica sobre o que está sendo dito. A intenção é ampliar as alternativas e trazer a possibilidade de idéias criativas.

Na Zona de Discussão, o esforço deve ser no sentido de construir um entendimento compartilhado por todos, de forma que os diferentes pontos de vista possam ser entendidos, ainda que não haja concordância com relação a eles. Ela compõe-se de duas atividades: criação de um contexto compartilhado, na qual devem ser utilizadas dinâmicas que promovam o entendimento mútuo dos pontos de vistas dos participantes; e reforço dos relacionamentos, com vistas a fazer com que os participantes se conheçam melhor, facilitando assim a comunicação.

Em minha experiência pessoal, algumas surpresas aconteceram nessa fase. Muitas vezes, o nível de consenso sobre assuntos considerados potencialmente polêmicos era muito maior do que o esperado. Ou seja, descobrimos que havia mais pontos em comum entre atores aparentemente antagônicos do que supúnhamos a princípio.

Em outros momentos, percebemos que a simples “circulação” de informações sobre o Município já trouxe avanços significativos. Certa vez, na etapa de elaboração da pré-proposta de um plano diretor, uma senhora nos disse que já estava colocando o plano em ação (plano este que ainda não estava pronto, bem entendido). Sua explicação foi que as idéias levantadas nas etapas anteriores alcançaram consenso suficiente para serem colocadas em prática antes mesmo que o plano ficasse pronto.
Na Zona Convergente deve-se discutir as alternativas de forma que estas contemplem todos os interesses e preocupações envolvidos. As atividades que a compõem são: exploração de princípios inclusivos, em que alguns artifícios para incorporar os interesses nas alternativas são trabalhados; reenquadramento criativo, na qual deve ser feito um esforço para ver o problema sob um ponto de vista diferente; e reforço das boas idéias, na qual as soluções devem ser avaliadas e refinadas aos poucos para alcançar o melhor resultado possível.

A grande “sacada” desse livro foi propor esse modelo de participação no qual a etapa do conflito não foi negada. Pelo contrário, ela foi reconhecida como fundamental para o processo participativo, devendo inclusive ser sustentada pelo facilitador enquanto não houver entendimento mútuo sobre os diversos pontos de vista. Normalmente, a atitude do facilitador é exatamento o contrário, tentando “abafar” os conflitos e as discussões em nome de uma suposta “objetividade”.

Excelente leitura.

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