O problema do trânsito

engarrafamento
O “nó” – Fonte: incredimazing.com

Dia desses recebi um informativo do Deputado Marcos Vieira, falando sobre suas propostas e realizações no último ano. Uma delas defendia algumas soluções para o trânsito já velhas conhecidas por nós: elevados, viadutos, duplicações de vias, etc. etc. etc. Resolvi investir um tempinho e lhe fazer algumas sugestões. Quem sabe não consegui plantar uma semente?

Eis a íntegra do e-mail que lhe enviei:

Caro Deputado Marcos Vieira:

Por haver recebido em minha residência um informativo de Vossa Senhoria, senti-me com liberdade para fazer alguns comentários com respeito a ele, conforme quadro para contato em sua parte final.
Especificamente, gostaria de tratar do assunto do trânsito, que tanto nos preocupa aqui em Florianópolis,até porque como arquiteto e planejador urbano tenho especial interesse pelo tema, tendo inclusive lecionado sobre ele por um curto período na faculdade.

Como é bem sabido, a topografia da Ilha impões sérias restrições ao trânsito, uma vez que dificulta a criação e, principalmente, a conexão entre as vias, acabando por gerar uma malha viária que depende excessivamente de uns poucos canais principais de escoamento. Por isso, preocupam-me as ações propostas em seu informativo, por estarem elas focadas apenas na duplicação de vias, e não em uma visão mais estrutural do problema do trânsito, que passa, em primeiro lugar, por uma revisão da ênfase excessiva depositada no uso do automóvel.

Por isso, escrevo esta mensagem como um apelo para que o senhor cogite outras formas de intervir no problema do trânsito que não reproduzam a lógica que vem sendo empregada até hoje em Florianópolis, com os resultados que podemos observar todos os dias, principalmente no verão. Refiro-me especificamente à tendência de aumentar indefinidamente as larguras e o número de faixas das vias que, conforme demonstram as pesquisas, apenas tornam as ruas mais atrativas para os automóveis.

Nesse sentido é bom lembrar que a grande maioria das pessoas das classes de renda mais baixa utilizam predominantemente o ônibus ou circulam a pé. Portanto, tais investimentos estão privilegiando justamente aqueles que já se encontram atualmente em uma situação mais privilegiada.

Apenas como complemento, deixo aqui alguns dados retirados de um livro da área de transportes. Quero deixar claro que não sou um especialista em trânsito nem em transportes, apenas um planejador urbano que gostaria de dar uma pequena contribuição ao debate do tema. Existem profissionais muito mais capacitados do que eu para falar sobre o tema, na UFSC, por exemplo.

  • Pessoas utilizando automóveis consomem 7 vezes mais espaço que pessoas utilizando ônibus. (VASCONCELLOS, 2000, p. 45)
  • A capacidade de deslocamento de passageiros é muito maior nos ônibus do que nos carros (1000 a 6000 passageiros por hora contra 140 a 250 pass./hora). (VASCONCELLOS, 2000, p. 222)
  • Com relação ao meio ambiente, a “contribuição” dos carros com monóxido de carbono (CO) para a atmosfera em São Paulo é de 97%, comparada com 2,0% dos ônibus (VASCONCELLOS, 2000, p. 41)

Referência bibliográfica utilizada: VASCONCELLOS, Eduardo. Transporte urbano nos países em desenvolvimento: reflexões e proposta. São Paulo: Annablume, 2000.

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Essa questão do trânsito de uma certa maneira me intriga. Em todos – todos! – os eventos de planejamento urbano dos quais participo existe um veemente consenso sobre a necessidade de dar maior ênfase sobre o transporte coletivo em relação ao individual. Lideranças comunitárias, políticos, funcionários das prefeituras, todos defendem o transporte coletivo, mas na hora H os investimentos continuam a privilegiar os automóveis, com o “tapetes pretos” e coisas do gênero.

Onde está o problema? Em que ponto da cadeia de tomada de decisões essa idéia se perde? Sugestões nos comentários…

[Update:] Resposta do Deputado, recebida em 13/02/2008:

Prezado Renato,

Cumprimentando-o cordialmente, agradeço a demonstração de interesse demonstrado com a leitura do meu Informativo. Ele tem a essa finalidade, não só de prestação de contas, mas um veículo de informação e interação com as pessoas e a sociedade sobre a atuação parlamentar e o meu compromisso assumidos como representante do povo no Legislativo Estadual.

Sobre sua sugestão, agradeço o envio das importantes sugestões que estão sendo analisadas como uma importante contribuição.

Atenciosamente,

Deputado MARCOS VIEIRA
Líder da Bancada do PSDB

11 thoughts on “O problema do trânsito

  1. Luis Gordin says:

    É isso aí, pau nesses caras… mobilidade urbana eficiente somente com o uso de bicicletas como transporte de massa…

    1. joao rafael says:

      li sua indagação sobre o transito enviado para o deputado macos vieira
      sei que a cidade nao foi feita para carros e sim para pessoas,
      mais a questao é que nao a outra saida a nao ser trabalhar em prol disso nao podemos se omitir a essa realidade, e nao tem como frear isso, o desenvolvimento do pais tecnolgia oferta de credito e o crescimento sao consequncia para essa situação, todos tem veiculo ate mesmo voce acredito que voce nao ande de onibus, agora dizer que nao devemos criar meios para nao melhorar a vias de circulação de veiculos nao é uma visao de futuro.

      JOAO RAFAEL
      ESTUDANTE ARQUITETURA E URBANISMO

  2. Michelle G. Bandeira says:

    Muito bem, gostei muito de sua iniciativa. Pesquisas são argumentos fortíssimos para orientar e debater pontos essenciais em nossa comunidade. Acredito que pouco ainda se utiliza deste meio para a resolução de problemas, alguns simples outros complexos. Quem sabe não vai rolar aí uma parceria com os centros de pesquisa da localidade, hein? isto seria muito interessante e todos sairiam ganhando – academia, sociedade e tomadores de decisões.

    abs, Michelle

  3. Renato Saboya says:

    É isso aí. Colaboração é essencial no nosso meio, sempre tão limitado em recursos financeiros e, principalmente, humanos e de conhecimento.

    Obrigado pelos comentários!

  4. Antonio says:

    Chego a perder duas Hs por dia ( ir e vir) para trabalhar em Florianopolis, tempo q sem engarrafamento utilizaria 20 minutos.
    Penso em duas saidas: quarta ponte ligando Beira Mar norte com Novo Aterro do Estreito(se tiver ligaçao com BR101 ou Transferencia de Predios Publicos para o Continente.

  5. Renato Saboya says:

    Antônio:
    Obrigado por comentar!

    Discordo quanto à sua saída n.1, mas concordo com a n.2.

    Já construímos 3 pontes e o problema não foi resolvido. Acho que uma 4a apenas adiaria por pouco tempo a necessidade de uma solução mais eficiente.

    Quanto à idéia 2, achei muito boa. Não abordei isso neste post, mas uma das soluções para o problema do trânsito pode ser o que alguns autores chamam de “não-deslocamento”, ou seja, a redução da necessidade de deslocamento. A ilha concentra grande parte dos empregos da sua região metropolitana, por isso atua como forte pólo atrator. Descentralizar poderia diminuir essa necessidade de que grande parte dos residentes nos Municípios vizinhos tenha que ir à Ilha todos os dias, ao mesmo tempo.

  6. Irene says:

    Ola,

    Achei muito interessante a iniciativa do prof. Renato, acredito que todos nós, cidadãos devessemos fazer a mesma coisa. Somos responsáveis pelas cidades, e devemos pensar em soluçoes conjuntas.
    Resolver problemas de mobilidade não é só assundo de Urbanista e Político. É preciso interação de todas as classes, criando uma cultura de que andar a pe e de bicicleta faz bem, uso de transportes em massa, criar diversidades de uso nos bairros proporcionando locais de trabalho mais próximo e por ultimo e mais importante fiscalizar a ação de políticos que beneficiam os grandes investidores imobiliários.
    Isso porque os que são operários acabam sendo segregados em áreas distantes de seu local de trabalho, muitas vezes esses nem automovel tem, esses usam 3 onibus até chegar.
    Garanto que quem tem carro, teria que andar menos a pé para ir trabalhar, do que quem não tem.
    Ah, também não adianta dizer: “Vamos andar de bicicleta” e não criar condições para isso. Quer coisa mais insegura que andar de bicicleta num grande centro urbano.

  7. Isabella says:

    Parabens, muito legal sua iniciativa, e acho que mais pessoas deviam ser como você e tentar resolver não só esse como muitos problemas que estão acontecendo (mas que ninguem se propoem a enfrentalos e tentar acaber com eles) !! Mas infelizmente o nosso governo (e companhia) não colaboram nem um pouco para isso..
    Tenho 15 anos ainda, e espero que mais pra frente muitos problemas como esse tenham sido solucionados!!

  8. Marina says:

    É obvio que o transporte individual NUNCA poderá ser tão eficiente. Até hoje não compreendo como as pessoas não percebem isso. Estou cansada de ver duplicação de avenidas, construções de viadutos, etc.
    Uma política explicita de valorização do transporte individual, um incentivo para seu aumento.

    Acredito também que existam formas de transporte coletivo muito mais eficientes do que os ônibus, o VLT (veículo leve sobre trilhos), por exemplo! Muitos países europeus já perceberam isso há anos, e nós continuamos insistindo em formas menos vantajosas. Será que o que nos atrasa é o interesse das companhias de petróleo? O interesse das companhias de ônibus com serviços caros e ruins?

    Temos que diminuir nossos deslocamentos e implementar um sistema de transporte público mais eficiente, diversificado e menos poluidor. VLT, metrôs, bicicletas e até mesmo o transporte a pé!!!

  9. Alexandre says:

    Assistam o vídeo DIRIGINDO EM LONDRINA PARTE 1 no YOU TUBE através desse link – http://youtu.be/pwzO0pPpX6w – e vão ver que os problemas no trânsito nem sempre vem da infraestrutura mas do desrespeito das Normas Viárias por parte dos motoristas… Abraço.

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