Um recurso de projeto muito interessante é a utilização de esquemas conceituais. Esses esquemas conseguem mostrar muitas informações com poucos elementos, o que os torna instrumentos de comunicação interessantes. Seu objetivo mais básico é auxiliar o arquiteto, durante o processo de projeto, a organizar suas idéias. Na etapa de análise, ele serve para sintetizar em um ou alguns desenhos todos os aspectos considerados mais importantes para o projeto. O exemplo abaixo mostra um esquema conceitual aplicado à análise de um local. Ele mostra a direção dos ventos predominantes, a localização de alguns (mas não todos) elementos pré-existentes, as vistas mais interessantes a serem levadas em consideração, relações com os vizinhos, áreas planas passíveis de serem aproveitadas, vegetação existentes, etc. As anotações feitas diretamente sobre o desenho também contribuem para um rápido entendimento, pois evitam que o leitor tenha que se remeter à legenda para saber o que significa cada um dos desenhos.
Esquema conceitual de análise – Fonte: Reid (1986)
O importante é entender que o esquema deliberadamente “ignora” uma grande quantidade de informações, mostrando apenas o que é considerado relevante. Por isso, possui grande capacidade de comunicação: o que é acessório é descartado, o que é essencial é mostrado. O contraste com uma fotografia ilustra bem este ponto: a fotografia não escolhe o que mostrar, tudo está ali. Se isso, por um lado, também pode ser bastante útil em algumas situações, em outras acaba prejudicando o entendimento, uma vez que fica mais difícil separar o que é essencial do que é acessório.
Os esquemas conceituais auxiliam a organizar as idéias também na etapa de proposta. Antes de partir para esquemas mais detalhados, é interessante que o arquiteto produza um ou mais esquemas mostrando as idéias principais da sua proposta, tanto para ele mesmo quanto para o cliente e os demais membros da equipe. Se as idéias principais estiverem contidas nesse esquema inicial, é mais fácil entender a lógica geral e realizar modificações ou ajustes antes de se comprometer com ela.
É importante ressaltar, entretanto, que a utilidade desses esquemas não se resume apenas a comunicar a proposta a outras pessoas, mas como instrumento para que o arquiteto possa refletir sobre ela, e avaliá-la criticamente. Também pode funcionar como ferramenta de brainstorm, auxiliando-o a criar várias propostas diferentes para ampliar o leque de possibilidades e fugir de soluções pré-definidas que às vezes prejudicam a criatividade.
A figura abaixo mostra um exemplo de esquema que ilustra a lógica geral de um projeto. Note como poucos elementos, escolhidos cuidadosamente, conseguem explicar toda a estrutura da intervenção, bem como as relações entre os espaços previstos.
Esquema conceitual de proposta – Fonte: Reid (1986)
O que mostrar em um esquema conceitual
Obviamente, o que será mostrado em um esquema conceitual varia de projeto para projeto, dependendo principalmente da sua natureza.O esquema conceitual de um hospital será diferente de um parque. Entretanto, alguns elementos podem ser generalizados:
Espaços destinados a funções e atividades específicas: pode ser uma sala, um espaço aberto conformado para uma atividade específica, etc.
Relações entre espaços e funções: esses espaços devem estar diretamente conectados? Ou devem estar separados por uma barreira? Ou ainda devem ser mantidos distantes um do outro?
Fluxos: de veículos, de pedestres, pontos de acesso, movimentos em geral.
Direções: visuais, direção do vento, direção do sol (da manhã e da tarde), etc.
Algumas possíveis representações de fluxos e direções – Fonte: Reid (1986)
Limites e barreiras: barreiras vegetais, rios, muros, limitações aos visuais, etc.
Pontos focais: pontos que definem áreas de interesse especial, seja por sua forma ou pelo valor simbólico ou ainda pela posição especial que ocupa dentro da estrutura, tais como obeliscos, chafarizes, árvores especiais, etc.
Algumas possíveis representações de elementos não lineares – Fonte: Reid (1986)
Está difícil?
Se estiver sentindo dificuldades em elaborar os esquemas conceituais, pode ser que o problema não esteja na falta de habilidades com o desenho. É mais provável que o problema seja decorrente de um entendimento ainda não suficiente da área ou da falta de reflexão suficiente sobre a proposta. Niemeyer dizia que, se na hora de explicar um projeto faltassem palavras, era hora de revê-lo. Se falta substância, é difícil justificar um projeto com palavras, da mesma forma que é difícil representá-lo em poucos elementos conceituais. Pela minha experiência, na maioria dos casos em que está difícil elaborar um esquema conceitual, isso é sintoma de falta de entendimento do problema. É hora de voltar à análise, de buscar repertório, de estudar as condições do local e seu contexto, enfim, de estudar o tema com maior profundidade. E, obviamente, de exercitar a proposta através do desenho e da experimentação, afinal essas também são formas de gerar conhecimento sobre o problema. O desenho permite o diálogo do projetista consigo mesmo.
Outros exemplos: (clique para ampliar)
Para saber mais
Todos os exemplos deste post foram tirado do livro “Landscape Graphics”, de autoria de Grant W. Reid. Se tiver interesse, verifique se este livro não está disponível na sua biblioteca, ou compre diretamente da Amazon.
REID, Grant W. Landscape Graphics. New York: Whitney Library of Design, 1986.
Meu nome é Gadevam e estou no 5º semestre, gostaria de agradecer sua maravilhosa contribuição com este artigo tão rico que veio ajudar-me a entender melhor este ponto.
Muito obrigado mesmo.
Um forte abraço e sucesso.
Gadevam
Olá
Sou urbanista e trabalho na BHTRANS.
Mto bom o artigo. Conhecia essas técnicas intuitivamente, mas uma orientanda minha me pediu uma luz sobre representação em urbanismo/projetos urbanos, eu não sabia onde procurar, e pensei em escrever eu mesmo. Foi a mão na roda achar esse artigo! Ele vai virar referencia minha!
Parabéns!
Olá, Guilherme!
Que bom que foi útil!
Abraços!
Muito bom o artigo…estou no 7°semestre e depois de ler estou mais otimista com meu trabalho de urbanismo.Acho que vou conseguir me organizar melhor.
MUITO BOM , MUITO BEM EXPLICADO. QUEM NÃO APRENDEU ASSIM PODE PENDURAR AS CHUTEIRAS. BOA SORTE POVO!
moro em Umuarama faço história, esse artigo me ajudou muito.no inicio tive dificuldades mas.. quando vc quer, vc consegue. um forte abraço sucesso pra vcs.
Isso vai me ajudar muito com a disciplina de urbanismo.
Muito obrigada \o/
Renato,
como professor, eu sempre dei a maior atenção a este raciocínio que trabalha o conceito (essa palavra já tão gasta, mas, ao mesmo tempo, tão própria), nos possibilitando pensar o inédito ou o circunstancial, tornando o complexo mais simples, porque o representa de forma inteligível e sintética; o que para mim sempre pareceu uma coisa menosprezada; como forma de inteligência; isso mesmo, a dimensão é toda esta.
É interessante ver que alguém mais não encara tal coisa como própria somente de livros (e há todo um movimento neste sentido já, ainda bem); e que esquece, depois de lê-los. Teve tempo em que livros inteiros eram feitos somente de ‘pranchas’.
Eu credito a esta ‘inteligência visual’, este ‘ver pelo desenho’ (veja Massironi), um potencial enorme; a ponto de crer que há outra mentalidade aí; e que o caminho projetual se trilha dentro desta mentalidade, com potencial ainda não valorizado suficientemente.
Seu site é ótimo. Eu me sinto em débito. Em poder contar com tão preciosa fonte. Ainda farei um à minha moda e espero conseguir estar à altura do seu. Pagando minha dívida.
Parabéns e obrigado.
Sérgio
Olá!
Obrigado!
Enquanto não cria o seu blog, fique à vontade para publicar aqui um artigo sobre esse tema, se tiver interesse.
Abs,
Renato.
Texto claro e bem feito!!! Acho esses desenhos incríveis!!!
Muito bom o texto.
A bibliografia em português sobre este assunto?
Obrigada
Foi muito útil!
Adorei \o/… Parabéns.
Parabéns. Perfeito. Leitura simples e eficiente.