Hoje o debate urbanístico age sobre críticas à cidade modernista. Os planejadores urbanos contemporâneos inserem o discurso da “sustentabilidade” no debate do desenvolvimento e planejamento das cidades na busca de novos paradigmas dentro dos aspectos de uma economia sustentável para o planejamento urbano, ideia que lida basicamente com a necessidade de uma mudança de hábitos (de consumo) das populações, a necessidade de um controle do crescimento demográfico, a perspectiva temporal (para as gerações presentes e futuras) e uma reavaliação de escalas (pensar global, agir local).
Dentro desta perspectiva, fatores como a melhoria da qualidade do ar, a conservação de energia, a diminuição dos impactos gerados pelo trânsito, entre outros tópicos, são hoje enfrentados por diversos urbanistas em diferentes países numa tentativa de desenvolver programas urbanísticos de baixo nível de agressão ambiental.
Madison, WI multimodal street. Photo by Margaret Gibbs via Pedestrian Bicycle Information Center Image Library
Deve-se notar também que o conceito de sustentabilidade urbana implica em tópicos mais abrangentes que aqueles considerados dentro do conceito de sustentabilidade ambiental, uma vez que o meio ambiente das cidades deve desenvolver-se em âmbitos sociais, econômicos e políticos, além dos ambientais e ecológicos. Desse modo, o conceito vai buscar definir um desenvolvimento social e/ou econômico que melhore e não destrua o meio ambiente natural e construído.
Neste contexto, cidades européias como Paris, Amsterdã e Copenhague, entre outras, percebendo a importância do uso da bicicleta na relação cidade/homem, buscam uma diminuição da poluição ambiental, uma humanização das ruas e uma diminuição de acidentes de trânsito incentivando este meio de transporte como prioritário, dispondo bicicletas para uso público e construindo redes cicloviárias interligadas a trens e metrôs.
Atualmente, não obstante uma ampliação das discussões sobre as necessidades em diminuir o uso indiscriminado do automóvel nas áreas urbanas, o uso da bicicleta ainda encontra o forte obstáculo do preconceito e, especialmente no Brasil, da falta de cidadania e respeito no trânsito. John Forester, engenheiro de trânsito americano dedicado ao estudo de sistemas cicloviários, nota que existem duas maneiras antagônicas de tratar o uso da bicicleta nas cidades: um que trata o ciclista como um condutor de veículos, sujeito às mesmas penalidades de um motorista de automóvel e outro que trata o ciclista como um “personagem marginal” que deve ser isolado para não atrapalhar o uso das vias pelos automóveis.
Se o primeiro aspecto leva a uma situação onde a cidadania é reforçada ao compartilhar as vias entre os diferentes meios de transporte e a segurança é aumentada pela necessidade de educação no trânsito exigida do ciclista, o segundo modo de tratar os ciclistas isola-o, dificultando a sua integração, aumentando o tempo de deslocamento e criando obstáculos para difusão do uso da bicicleta.
Evidentemente, em algumas situações específicas, a criação de ciclovias segregadas do trânsito é necessária, mas não pode ser colocada como solução a priori.
Infelizmente, as políticas de transporte de nossas cidades enxergam o ciclista pelo segundo aspecto. Ciclovias implantadas em cidades como Curitiba e Rio de Janeiro, ainda que representem um avanço dentro do contexto brasileiro onde o ciclista é praticamente ignorado no planejamento do sistema viário, carecem de integração que complementem rotas cicláveis seguras com outros meios de transporte.
Em cidades no interior paulista onde é intenso o uso das bicicletas como Indaiatuba (120 mil habitantes, 80 mil bicicletas e 40 mil automóveis) a direção de trânsito da cidade recebe reclamações de motoristas de como as bicicletas estão “atrapalhando” o trânsito, sem perceber que elas constituem o trânsito da cidade.
O exemplo de Indaiatuba torna evidente que isolar os ciclistas na rede de vias públicas em vias especiais (com algumas exceções) visa apenas o benefício dos motoristas e não atende as necessidades de uma população que procura modos alternativos de locomoção. Também indica a necessidade de implementação de um planejamento urbano que não desconsidere as necessidades reais de transporte da população.
Como mencionado, alguns avanços têm sido feitos nas cidades brasileiras, nos últimos anos, porém existe uma necessidade de se ampliar o debate em torno do uso da bicicleta como meio de transporte. Sugiro uma visita ao site “Escola de Bicicleta” mantido por Arturo Alcorta, para aqueles que querem mais informações para discussão.
Bicicleta é o futuro!
Com certeza Marcos, é o futuro!….alguns estudiosos como Mayer Hilman do Policy Studies Institute de Londres apontam a bicicleta como o substituto mais realista e eficaz para o uso do carro em áreas urbanas, sobrepondo-se em importância inclusive ao transporte coletivo.
Abç
Eu ando de bicicleta em São Paulo, mas há algumas regiões em que as ruas são muito íngremes, tornando o transporte por meio de bicicleta muito difícil. Você conhece alguma outra solução de transporte não convencional para regiões onde andar de bicicleta é quase impraticável?
Marcos, áreas de cidades com topografia desfavorável devem ser pensadas para um transporte integrado bicicleta-ônibus. Independente da viabilidade, as rotas ciclísticas podem contar com ladeiras. O bom de se mover em bicicleta é que ou ela te leva, ou você caminha e leva ela.
Abraços.
Sergio
Nao sei se hj podemos dizer uns marginais de bicicletas, mais infelizmente quem anda de bicicleta é visto como operarios como minoria como pesssoas ruins mais nao é isso somos todos cidadoes somos gente pessoas q acreditam em algo melhor, desculpa se estou falando estranhos mais estou estundando as pessoas q acreditam no camelo como eles mesmos dizem … bike é mais rapito boy … viva a bicicleta!
Muitas pessoas leigas dizem que a bicicleta é só para cidadões de baixa classe perante a sociedade.
Nossa querida bicicleta abrange o tripé da sustentabilidade social ,ambiental e econômico.
Toda minha vida usufrui da bicicleta pois minha condição financeira é baixa e digo com orgulho que sou sustentável.
O clima é um dos fatores cruciais para a implantação de um sistema de mobilidade urbana que privileigie o uso da bicicleta. O outro é a topografia das cidades, pois quanto mais plana ela for, melhor. Metrópole industrial da Amazônia, Manaus tem contra o uso massivo desse meio de tranporte exatamento o clima adverso, muito quente e chuvoso, e a topografia, pois a cidade foi construída sobre colinas, com seus inúmeros igarapés formando o fundo dos vales.
MSc Denison Silvan
Como ambientalista, há mais de quatro décadas privilegiei o uso da bicicleta, mas tenho sérias restriçõe quanto ao uso desse meio de transporte em Manaus. Quente a maior parte do ano, com chuvas copiosas no verão, a cidade de Manaus também tem contra o uso da bicicleta o trânsito intenso de veículos automotores, que não respeitam o ciclista e o traçado urbano, irregular e acéfalo. Morei em Ribeirão Preto, no interior do Estado de São Paulo, uma cidade com vários morros e colinas, mas sempre contornava o problema das ladeiras íngremes com criatividade (leia-se: “morcegando” os caminhões). Em Parintins, no interior do Estado do Amazonas, também fiz uso regular desse meio de transporte, mas sempre evitando o período mais quente do dia. A vantagem dessa cidade amazônica sobre Manaus é que ela é relativamente plana, com um trânsito intenso, mas, com a predominância de motocicletas. Meu recado é: a bicicleta tornou-se uma opção de mobilidade urbana que deve ser levada em consideração pelos tomadores de decisões municipais sim, mas com reservas que dizem respeito às particularidades das cidades.
MSc. Denison Silvan.