As raízes do planejamento urbano remontam ao trabalho dos primeiros urbanistas, que se insurgiram contra as conseqüências advindas da intensa urbanização causada pela Revolução Industrial (HALL, 2002, CHOAY, 2003).
Essas cidades acabaram sendo tomadas pelas edificações, gerando um ambiente urbano insalubre, sem condições mínimas de infra-estrutura que pudesse dar conta da densidade instalada. Assim as ruas eram estreitas e mal-cheirosas, e o esgoto ficava a céu aberto.
Esse período é chamado por alguns autores de “liberal”,
uma vez que, na época, não existiam regulações que orientassem a ocupação urbana, deixando para o mercado essa tarefa. Entretanto, como ficou claro, o mercado não era capaz de prover qualidade urbana, uma vez que seu objetivo principal é a obtenção de lucro. Sendo assim, espaços abertos, por exemplo, que não traziam lucros imediatos, foram negligenciados.
Os urbanistas que procuraram dar um alternativa à cidade liberal possuíam concepções muito particulares sobre as cidades e se propunham a “desenhá-la” exatamente da forma como deveriam ser. São dessa época os trabalhos de Le Corbusier (Cidade Radiante), Frank Lloyd Wright (Broadacre City), Ebenezer Howard (Cidade Jardim) e Tony Garnier (Cidade Industrial) (CHOAY, 2003; TAYLOR , 1998).
Havia, portanto, a concepção de plano como um design físico, um projeto de cidade a ser alcançado dentro de um certo período de tempo, muito dentro da concepção de projeto arquitetônico. A cidade não era vista como um organismo em evolução, e sim como um “objeto”, cuja concepção deveria ser realizada pelo arquiteto, a priori. Os instrumentos de intervenção sobre a cidade não levavam em consideração a evolução do sistema urbano, apenas seu estado final desejado.
Teorias sobre o planejamento urbano nessa época estavam usualmente preocupadas com projetos ou planos visionários que mostravam como a cidade ideal deveria ser espacialmente organizada. (TAYLOR, 1998, p. 16). Curiosamente, apesar de se dizer ciência, o urbanismo dessa época baseava-se muito mais em intuição e impressões do que propriamente em teorias contruídas e testadas empiricamente. O resultado foram consequências não previstas e, além disso, indesejadas.
Tal visão começou a ser modificada com o livro “Cidades em evolução”, de Patrick Geddes, que introduziu a visão processual no estudo e no planejamento das cidades. Mas isso é assunto para outro post…
Referências bibliográficas
BENÉVOLO, Leonardo. História da Cidade . São Paulo: Perspectiva, 1999.
CHOAY, Françoise. O urbanismo. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.
FRAMPTON, Kenneth. História crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
HALL, Peter. Urban and regional planning. 4th ed. New York: Routledge, 2002.
TAYLOR, Nigel. Urban planning theory since 1945. London: Sage, 1998.
Prezado Renato: quando nas FAU vemos a manutenção ou retomada da hegemonia do projeto fisico pouco ou nada informado do processo social de produção, apropriaçào e consumo do espaço urbano e das tipologias edificatorias de que se vale o mercado imobiliario, com destaque para o rentismo , como expõe Harvey, entendo que devemos recuperar a extraordinária contribuição multidisciplinar de Patrick Geddes que há 100 anos ja defending o que hoje ainda é muito pouco ensinado e menos ainda praticado.