A capacidade do ser humano de direcionar sua atenção para uma tarefa é algo muito interessante. Essa capacidade permite que o homem dedique, mesmo que por curtos períodos de tempo, todas as suas energias para algumas tarefas específicas, aproveitando todo o seu potencial para resolver um problema ou fazer avançar, de alguma forma, uma situação indesejada.
Quem de nós nunca passou por uma situação em que se está concentrado lendo um livro, ou assistindo a um filme, ou fazendo qualquer outra coisa que consuma toda a nossa concentração, e então de repente você se dá conta de que tem alguém te chamando já há algum tempo e você nem tinha percebido?
O vídeo abaixo é um bom exemplo do quão poderosa pode ser nossa capacidade de prestar atenção. Repare na cor do baralho no início e no fim do vídeo.
Limitações da nossa capacidade de prestar atenção
O problema, como percebemos no vídeo, é que enquanto nossa atenção está totalmente focada em um objeto, nós tendemos a minimizar a importância de outros objetos, ou mesmo a esquecer totalmente que eles existem. Isso acontece porque temos um “estoque” limitado de atenção para destinar às nossas atividades e pensamentos (Csikszentmihalyi, 1991). Mesmo quando fazemos duas coisas ao mesmo tempo, o que estamos fazendo na realidade é mudar o foco de atenção rapidamente de uma tarefa para outra.
Há um autor do planejamento comunicativo chamado John Forester que diz que uma das principais funções do planejador é direcionar a atenção das pessoas sobre determinados assuntos. Forester chama os planejadores de “conformadores de atenção” (attention shapers, no original), visto que eles exercem papel essencial na seleção, de todos os aspectos da realidade, daqueles considerados os mais apropriados para serem discutidos e decididos.
Por conta disso, os aspectos a serem trazidos à tona, discutidos e decididos devem ser cuidadosamente escolhidos, não apenas pelos planejadores, mas também pelos demais atores que participam do processo de planejamento. A pauta das discussões não define apenas o que será discutido, mas define também o que não será discutido.
Como no vídeo acima, é muito fácil, no calor das discussões, focalizar totalmente a atenção em um aspecto específico e esquecer da “big picture”, ou seja, do quadro mais geral. Reservar um pouquinho de atenção para a escala mais global é importante, para que possamos ter em perspectiva o assunto específico que estamos tratando, bem como sua posição em relação ao resto e também sua relevância. Quando paramos pra pensar sobre isso, muitas vezes vemos que o assunto é importante, mas não tão importante assim se compararmos com os outros assuntos que poderiam estar sendo discutidos.
Manipulações das atenções alheias
Além disso, existem ainda as manipulações, que podem se aproveitar da nossa limitada capacidade de prestar atenção para direcionar o rumo das discussões na direção que mais interessam a determinados grupos. Um tipo famoso de manipulação é a famosa “cortina de fumaça”, em que assuntos são “jogados” dentro da discussão com o único propósito de desviar a atenção das pessoas dos assuntos que são realmente importantes.
Em um meio diverso por natureza como é o planejamento urbano, quase todos os assuntos são potencialmente relevantes. Por isso é tão difícil neutralizar essas iniciativas. Imagine a situação: – Desculpe, senhor, mas acho que esse assunto não é tão importante agora… Minha experiência prática tem mostrado que poucas vezes uma colocação desse tipo é aceita.
Outro tipo de manipulação, muito parecida com a cortina de fumaça, é o “boi de piranha”, em que um tópico é jogado na discussão de forma provocativa, com a intenção de gerar polêmica e drenar as atenções. A diferença, neste caso, é que o tópico já é pensado desde o início para ser rejeitado, contanto que facilite a aprovação das outras propostas.
Vemos, portanto, que as armadilhas são muitas, tanto intencionalmente colocadas por outras pessoas quanto naturalmente criadas por nós mesmos. Por esse motivo, é preciso ficar ligado. Ou melhor: é preciso prestar atenção!
Referências bibilográficas
CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. Flow: the psychology of optimal experience. New York: Harper Perennial, 1991.
FORESTER, John. Planning in the face of power. Berkeley: University of California Press, 1989.
Parabéns pelo site!
Muito bom.
Um abraço.
Eduardo Dantas
arquiteto e urbanista
João Pessoa – PB
BRASIL
Caramba… eu realmente não sabia onde você iria encaixar o assunto com o Planejamento Urbano, mas devo ser sincero, deixei minha atenção se desviar ao problema psicológico e não prestar atenção ao global da discussão hehehehehe. Parabéns pelo blog. Continue assim.
Abraços