Segundo Hopkins (2001), um plano é necessário para lidar com quatro elementos inerentes ao processo de desenvolvimento:
a) Interdependência, que significa que a adequação de uma ação depende de outra ação. É o caso, por exemplo, de um investimento público em um determinado lugar pode depender de outras ações para funcionar corretamente;
b) Indivisibilidade, que significa que muitas das ações não podem ser feitas em etapas pequenas de acordo com o crescimento paulatino da demanda; para surtir efeito elas precisam ter um tamanho mínimo para que possam funcionar. É o caso de vias que precisam ligar dois pontos e que, caso sejam feitas parcialmente, perdem sua utilidade.
c) Irreversibilidade, que significa que não é possível efetuar uma ação e depois modificá-la ou substituí-la sem custos adicionais significativos. Uma vez que a via esteja pronta não é possível relocá-la caso o efeito no desenvolvimento do local não esteja de acordo com o previsto.
d) Incerteza, que significa que não é possível prever os valores, no futuro, das variáveis que são importantes para as decisões a serem tomadas no presente.
Por causa desses quatro elementos, é mais vantajoso planejar antecipadamente as ações do que decidir à medida que os problemas se apresentam, visto que não é viável que as ações sejam rapidamente re-ajustadas para se alcançar um estado de equilíbrio no sistema sempre que uma nova situação não prevista apareça. Apesar de parecer óbvio, é importante termos essa consciência para poder refutar os argumentos de que planejamento não é necessário. “Podemos fazer como os supermercados:just-in-time”.
Para lidar com esses elementos e suas conseqüências, os planos podem funcionar, ainda segundo Hopkins, através de cinco mecanismos:
Como uma agenda, listando uma série de ações a serem levadas a cabo. Nesse sentido, a agenda funciona tanto como um elemento para ajudar a focar a atenção nas coisas que são realmente mais importantes como para representar um comprometimento com essas ações para com os outros atores interessados. O orçamento anual de um município, por exemplo, pode funcionar como uma agenda, na medida em que lista as ações para as quais há recursos disponíveis, dando uma idéia à população quanto às obras que devem ou não ser realizadas naquele ano.
Como procedimentos[1], automatizando decisões que são freqüentemente tomadas através de regras sobre como proceder, como uma forma de alcançar consistência entre as decisões. Funciona como regras do tipo “se…então”, como na regra “se o empreendedor pagar a implementação da rede de tratamento de esgoto, então será permitido o parcelamento da gleba”.
Como visão, explicitando o que o município poderia vir a ser no futuro, como uma maneira de modificar as convicções das pessoas sobre o futuro e, assim, influenciar os investimentos em ações, normas, padrões de uso e ocupação do solo, etc. As visões podem ser descrições gráficas ou verbais do estado desejado para o sistema, mas nunca incluem as ações intermediárias necessárias para que esse estado seja alcançado.
Como projeto, o plano funciona como uma especificação com um nível de detalhamento suficiente para a sua execução. Ele determina a priori todas as relações entre as ações e especifica quais ações devem ser feitas e em que ordem. Dessa forma, ele lida com os elementos de interdependência, indivisibilidade e irreversibilidade baseado na premissa de que não existe incerteza quanto ao futuro.
Projeto para a Ville Radieuse – Le Corbusier
Como estratégia, o plano identifica uma série de ações ligadas por uma “árvore de decisão”, ou seja, propõe quais ações devem ser tomadas no momento presente levando em consideração sua relação com possíveis futuras ações.
Estratégia de desenvolvimento para a Região Metropolitana de Portland
Para Hopkins esse é o mecanismo mais importante de funcionamento dos planos:
Estratégia é a noção mais abrangente e portanto fundamental de plano, porque é a mais explícita com relação às relações entre ações interdependentes, suas conseqüências, intenções, incertezas e resultados. Estratégias respondem mais completamente aos problemas de interdependência, indivisibilidade, irreversibilidade e incerteza. (HOPKINS, 2001, p. 41)
[1] No original, “policies” ou “if-then rules”.
Referência bibliográfica:
HOPKINS, Lewis. Urban development: the logic of making plans. Washington – DC: Island Press, 2001.
Renato obrigado por este texto claro e direto. Sem dúvida ajuda a divulgação do assunto através da fácil comunicação, excelente para um trabalho de sensibilização.(lorenzo villar – arquiteto mestrando em geografia sobre a produção e a gestão do espaço em universidade pública)