Em um estudo sobre a vitalidade de ruas comerciais, Vikas Mehta fez um exaustivo levantamento dos comportamentos de pessoas em 19 quarteirões de 3 ruas desse tipo em Boston, nos EUA. Comparando essas observações com o levantamento das características físicas dos trechos de quarteirão analisados, Mehta (2009) investigou a correlação entre esses aspectos, e chegou a conclusões interessantes.
Diagrama mostrando a fachada do quarteirão e a presença de pessoas na calçada (MEHTA, 2009)
Segundo ele, os principais fatores explicativos de altos índices de vitalidade em ruas comerciais são:
- Espaços para sentar junto a lojas e comércios: bancos localizados nas calçadas em frente a lojas e comércios que ofereciam produtos de consumo imediato tendiam a ser intensamente utilizados pelas pessoas não apenas para consumir os produtos mas também como simples permanência e contemplação;
A presença de bancos junto a lojas incentiva a permanência de pessoas (MEHTA, 2009)
A ausência de bancos, por outro lado, dificulta a permanência de pessoas (MEHTA, 2009)
- Largura das calçadas: intimamente ligada à possibilidade de instalação de bancos, a largura das calçadas também mostrou-se relevante para a vitalidade na rua, no sentido de que calçadas mais largas são mais interessantes para caminhadas e fornecem o espaço necessário à instalação de bancos;
A largura da calçada é determinante para possibilitar apropriação (MEHTA, 2009)
- Articulação das fachadas: fachadas com reentrâncias e pequenas esquinas criam áreas intermediárias entre o fluxo de pessoas e as vitrines, permitindo ás pessoas parar junto a elas para olhar os produtos, ou mesmo possibilitando apresentações de artistas ligados ou não às lojas, atividades essas que aumentavam a permanência nos espaços da rua;
Fachadas com reentrâncias criam possibilidades de permanência fora da área de fluxo (MEHTA, 2009)
Mesmo pequenos shows podem acontecer nesses espaços (MEHTA, 2009)
- Sombra e abrigo proporcionado por árvores, toldos, marquises, etc.: dependendo da época do ano, a sombra das árvores e de toldos eram buscadas como forma de se proteger do calor. O mesmo acontece em dias de chuva.
Sombras são muito procuradas, dependendo da época do ano (MEHTA, 2009)
- Outros mobiliários urbanos junto a lojas e comércios: paredes à meia altura, postes de luz, latas de lixo, troncos de árvore, parquímetros, etc. são usados das mais diversas maneiras, seja para buscar algo na bolsa, ajustar o sapato, atender ao celular, etc.
- Lojas com fachadas personalizadas e com produtos expostos junto à calçada: as atividades relacionadas à contemplação de vitrines mostraram-se significativas, e lojas que modifiquem e personalizem suas fachadas criam variações que as tornam mais atrativas para pessoas que estão familiarizadas com o local;
- Lojas que oferecem produtos e serviços de uma forma única e diferenciada: as pessoas preferem lojas pequenas e de pequenos proprietários, pela qualidade e variedade de produtos e serviços, pelo atendimento mais amigável, pelo seu caráter mais diferenciado e único e pela sua ambiência;
- Permeabilidade entre o interior das edificações e o espaço externo: lojas com pouco ou nenhum espaço impermeável na fachada revelam as atividades que acontecem no seu interior e despertam a atenção de quem passa. As pessoas tendem a parar em frente às vitrines para olhar o que acontece no espaço interior, e isso muitas vezes dão origem a conversas.
Permeabilidade interior x exterior e transbordamento das atividades internas criam atração no espaço público (MEHTA, 2009)
- Lugares comunitários: alguns lugares são eleitos pelos moradores locais como preferidos e permitem que as pessoas lá permaneçam pelo tempo que desejarem. Uma das características enfatizadas pelos entrevistados foi a presença de diversidade de pessoas de diferentes perfis socioeconômicos.
Referência bibliográfica
MEHTA, Vikas. Look Closely and You Will See, Listen Carefully and You Will Hear: Urban Design and Social Interaction on Streets. Journal of Urban Design, v. 14, n. 1, p. 29 -64, 2009.
Este artigo só vem confirmar todo diagnóstico sobre o centro de Joinville que estamos elaborando pensando em sua requalificação aqui na prefeitura. Pena que, quando pensamos em reduzir vagas de estacionamento das ruas para ampliar calçadas e trabalhar na qualidade do espaço para os pedestres e ciclistas, propondo parcerias com o setor privado (comércio e serviços) para a realização das idéias, as mesmas não são bem vistas, são rejeitadas, pois a cultura ao carro ainda impera, como se fosse verdadeira.
Meu Deus!!! Porque aqui no Brasil as coisas andam para trás? A cultura anti-mendigos nos impede de colocar bancos (decentes) nas praças e calçadas. Rua é lugar de vagabundo!