Livro Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente

Abaixo, a introdução do livro “Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente”, organizado por Almir Francisco Reis, do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. O texto de introdução também é de sua autoria.

Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente
Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente

APRESENTAÇÃO LIVRO

Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente

 A busca por uma cidade socialmente justa e ambientalmente sustentável tem sido a tônica de grande parte das atividades de projeto e planejamento urbano no presente. Urbanidade, entendida enquanto atributo do meio urbano de propiciar interações sociais intensas e diferenciadas, o desenvolvimento cultural e a preservação ambiental, constituem aspectos extremamente importantes das cidades, os quais têm sido, muitas vezes, colocados em oposição, jogando em campos aparentemente opostos defensores de uma ou outra dimensão urbana.

 Em termos da pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, essa inquietação tem levado a campos de pesquisa extremamente promissores: estudos que relacionam práticas sociais a redes de espaços públicos e experiências artístico-culturais à paisagem urbana, assim como estudos que analisam a cidade contemporânea sob o viés do pensamento ecológico, no sentido de um desenvolvimento urbano mais sustentável. Poucos, porém, são os trabalhos que buscam integrar estas diversas dimensões, pesquisando como as diferentes estruturas urbanas, e em especial os espaços livres públicos de uso coletivo, têm propiciado a formação e a transformação da cultura das cidades, pela absorção de conceitos ecológicos e pelo estabelecimento de interfaces com suas bases naturais.

 Os trabalhos apresentados neste livro avançam essa discussão, relacionando cidade, paisagem e meio ambiente e aliando aportes que o paradigma ambiental coloca, no presente, ao planejamento e ao projeto urbano, com vistas a uma cidade articulada por uma rede de espaços livres públicos densa e carregada de urbanidade. Nestes trabalhos, as configurações espaciais urbanas, sua capacidade de propiciar ambientes fecundos em termos sociais e culturais, e seu desempenho ambiental e urbanístico são analisadas em sua inter-relação. A consideração da capacidade de suporte dos ecossistemas naturais para os diferentes usos urbanos, o modo como estruturas urbanas têm se vinculado a estruturas de conservação ambiental, as possibilidades de desvelamento das feições naturais da paisagem urbana, a transformação urbano-turística das paisagens costeiras, as peculiaridades dos processos de regularização fundiária em áreas de conservação, o papel das áreas de conservação no contexto urbano e a análise de propostas urbanísticas que buscam a integração entre natureza e cidade constituem algumas das temáticas aprofundadas nos diversos estudos de caso apresentados, os quais têm como base espacial distintas realidades urbanas brasileiras.

 Estes textos foram desenvolvidos em função do Simpósio “Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente”, organizado durante I Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, acontecido no período de 29 de novembro a 3 de dezembro de 2010, no Rio de Janeiro. O Simpósio reuniu pesquisadores de diferentes universidades brasileiras, tendo como resultado os oito trabalhos aqui presentes. Buscando facilitar a leitura, fazemos uma apresentação preliminar desses trabalhos, que incluem estudos de caso, trabalhos conceituais e a apresentação de uma proposta projetual:

 1. Em “Sol, praia e imóveis: dinâmica urbana e meio ambiente no Nordeste brasileiro”, Alexsandro Ferreira Cardoso da Silva estuda o processo de transformação do litoral do estado do Rio Grande do Norte, e em especial a Região Metropolitana de Natal, a partir do desenvolvimento turístico. O trabalho centra sua abordagem na dinâmica imobiliária daí proveniente, realizando uma tipificação dos empreendimentos turísticos, o que permitiu estabelecer um quadro geral do fenômeno e seus desdobramentos socio-ambientais.

 2. “Crescimento urbano-turístico, meio ambiente e urbanidade no Litoral Catarinense”, de Almir Francisco Reis, também aborda a questão da transformação urbano-turística de nossas áreas litorâneas, neste caso a partir do estudo do litoral catarinense. O trabalho estabelece uma relação entre processo de crescimento (ressaltando limites e possibilidades que preexistências históricas colocam às transformações do presente) e atributos que os novos assentamentos costeiros apresentam, em termos da geração de espaços públicos (urbanidade) e da interface que têm estabelecido com os ecossistemas naturais (meio ambiente).

 3. O trabalho “O problema das escalas e o desafio do urbano na Amazônia”, de Ana Cláudia Cardoso, apresenta uma discussão que tem como objetivo apontar uma agenda necessária de investigação sobre o urbano amazônico, de modo a corrigir distorções induzidas pelo próprio poder público e apresentar o estudo da forma urbana como um indicador importante na observação dos processos socio-espaciais da região. O texto aponta que a percepção local do urbano demonstra o desejo ingênuo de reprodução dos mesmos elementos da paisagem observados nos grandes centros do país, donde a necessidade de uma atualização de paradigmas na necessária busca por um modo de vida urbano sustentável e na definição de um novo papel das cidades e aglomerações para a preservação do bioma amazônico.

 4. Frederico de Holanda, em “Urbanidade ambiental” discute proposta de um novo campus para a Universidade de Brasília, projeto onde qualidades ambientais e de urbanidade são buscadas simultaneamente. Atributos especificamente urbanos, como a visibilidade do outro, a apropriação do âmbito público e a orientabilidade das pessoas em deslocamento são considerados paralelamente a uma configuração de baixo impacto no meio ambiente, haja vista os cuidados configuracionais e paisagísticos tomados, o controle da absorção de precipitações pluviométricas no sítio, bem como das temperaturas médias do solo e do ar resultantes de sua implementação. O trabalho, apresentando um projeto urbano e suas bases conceituais, demonstra limites e possibilidades do trato integrado com diferentes dimensões urbanas e arquitetônicas no presente.

 5. Maria de Lourdes Pereira Fonseca, em “São Paulo: uma nova urbanidade para a metrópole?”, analisando a proposta do Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo de conferir urbanidade à metrópole, especialmente no que se refere à criação de uma rede estrutural de eixos e pólos de centralidade, problematiza a dispersão urbana, característica marcante das cidades brasileiras. Como cidades que se dispersam podem difundir urbanidade por suas diversas partes e gerar ambientes urbanos qualificados? Isto seria possível tanto em áreas ocupadas pelas elites quanto naquelas vividas pela população de baixa renda? O trabalho, através da comparação entre os eixos e pólos de centralidade propostos no Plano Diretor e aqueles efetivamente existentes discute as diferenças encontradas entre plano e realidade, em especial no que tange à interdependência de fatores como a renda e a capacidade que alguns tipos de estabelecimentos e atividades têm de gerar centralidade numa determinada área.

 6. Maria Lucia Refinetti Martins, com “Habitação e Meio Ambiente Urbano”, texto de caráter marcadamente conceitual, propõe uma abordagem integrada entre aspectos sociais, ambientais e urbanos, no estudo e na proposição do espaço urbano, buscando superar a total desconexão hoje existente entre estes aspectos, em especial nas abordagens preservacionistas radicais e naquelas que defendem uma urbanização sem restrições. Este trabalho, embasado na experiência da cidade de São Paulo, ressalta a relevância da habitação na constituição do ambiente construído, tanto nas franjas periféricas de nossas metrópoles, junto a áreas de preservação, quanto nos centros tradicionais, onde o quadro edificado, envelhecendo sem manutenção, se precariza. A hipótese por trás da proposta apresentada é de que a qualificação de áreas com patrimônio urbano e ambiental deteriorado ou abandonado só se viabiliza com a ação intensiva do poder público, em especial na promoção de habitação de interesse social.

 7. Raquel Tardin, com “Ordenação Sistêmica da Paisagem” discute a ordenação da paisagem em sistema como diretriz para seu planejamento e como vertente estratégica para as intervenções urbanísticas, em plano ou em projeto, apresentando-se como oportunidade de (re)estruturar o crescimento e a qualidade do ambiente urbano. Participação social e argumentos técnicos, provenientes da análise dos sistemas da paisagem, constituem, neste caso, os subsídios principais no estabelecimento de um efetivo diálogo entre os distintos atores sociais, com vistas ao estabelecimento de consensos mínimos nas definições urbanísticas e ambientais.

 8. O texto “Córregos ocultos em São Paulo”, de Vladimir Bartalini, apresenta pesquisa sobre córregos urbanos, discutindo como sua ressignificação pode auxiliar num processo de transformação da cultura das cidades, ao contemplar a trama de valores associados às bases materiais primordiais dos sítios. O trabalho apresenta casos de córregos hoje ocultos no tecido urbano da cidade de São Paulo, num exercício de revelação que se justifica não somente pelo efeito simbólico e detonador da imaginação, mas também pela possibilidade da rede capilar dos córregos vir a constituir, através de seus elementos devidamente trabalhados, mais uma das camadas ou estratos a serem apropriados nas práticas cotidianas.

 Espera-se, com a publicação conjunta destes trabalhos, atingir um público mais amplo, incentivando estudos futuros e reforçando a necessidade de integrar abordagens urbanísticas e ambientais no trabalho do arquiteto-urbanista, nas diferentes escalas de análise e intervenção – território, cidade, arquitetura; planejamento, projeto, atuação institucional. E, fundamentalmente, objetiva-se incentivar o crescimento da pesquisa e da reflexão sistematizada em uma área hoje já com extensa experiência prática e profissional.

 Almir Francisco Reis

Ilha de Santa Catarina, fevereiro de 2011.

2 thoughts on “Livro Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente

  1. Andrea Pereira says:

    Olá, Tudo Bem?

    Sou assistente social, aqui na Bahia, estou começando uma pós em Ecologia e Intervenções Ambientais. Quero saber como faço para adquirir este livro… Aguardo breve retorno.

    Grata,
    Andrea.

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