Os gráficos de visibilidade foram propostos por Turner et al (2001), adaptando o conceito de isovistas, cuja origem remonta à década de 60 mas que foi formalizado por Benedikt (1979 apud Turner et al, 2001), e faz parte do campo de estudos conhecido como Sintaxe Espacial. Uma isovista é a representação em duas dimensões (portanto, um polígono) de tudo que pode ser visualizado a partir de um determinado ponto no espaço, conforme pode ser visto na Figura 1.
Esquema de uma isovista (Turner et al, 2001)
A partir desse conceito, Turner et al (2001) desenvolveram um método de análise que, ao invés de limitar-se ao caráter local das vistas, lida com a questão mais global das relações existentes entre as isovistas de todos (ou quase todos) os pontos de um determinado espaço de estudo, ou seja, como as isovistas relacionam-se entre si. Esse método de análise foi chamado de gráfico (ou grafo) de visibilidade.
O gráfico de visibilidade
O primeiro passo para elaborar um gráfico de visibilidade é definir a localização dos pontos geradores. Turner et al (2001) usam uma malha regular, que pode ter resolução variável conforme cada caso. Eles usam uma malha de 1m x 1m, mas alertam que a resolução é limitada apenas pela capacidade de processamento das informações (quanto maior a resolução, maior a quantidade de pontos e portanto maior a quantidade de relações a serem calculadas). Para aqueles familiarizados com Sistemas de Informações Geográficas, esse formato é correspondente à representação Raster do espaço, com células de tamanho uniforme.
Caso dois pontos geradores de isovistas sejam mutuamente visíveis entre si, então diz-se que há uma relação de primeira ordem entre as isovistas. Turner et al (2001) usam esse conceito para construir um grafo que leve em consideração essa visibilidade mútua entre os diferentes pontos geradores, ou seja, aqueles pontos que são mais visíveis a partir de outros pontos obtêm um valor de visibilidade maior do que aqueles que são visíveis a partir de poucas localizações. A Figura 2 abaixo mostra esse conceito, sendo possível perceber que alguns pontos são mais “inter-visíveis” (isto é, possuem mais linhas conectando-os a outros pontos) que outros. Os pontos localizados acima do T, por exemplo, possuem poucas ligações de visibilidade, enquanto que aqueles situados na parte inferior das laterais possuem muitas ligações.
Esquema de um grafo de visibilidade (Turner et al, 2001)
A partir desse grafo de visibilidade, Turner et al (2001) derivam também outras medidas, com por exemplo a de integração, na mesma tradição da de Hillier e Hanson (1984) com as linhas axiais.
Interpretação do gráfico de visibilidade
As cores mais quentes, tendendo ao vermelho, indicam as localizações com maior visibilidade. As cores mais frias, tendendo ao azul escuro, indicam aquelas com menor visibilidade.
Gráfico de visibilidade – as cores mais quentes indicam áreas com maior visibilidade; o preto indica barreiras visuais.
Em espaços urbanos abertos, sob o ponto de vista arquitetônico, localizações com maior visibilidade tendem a denotar maior hierarquia, destaque, importância, etc. É o caso, por exemplo, de monumentos situados nas porções centrais de praças e parques. É o caso também de situações em que eixos visuais são utilizados para valorizar uma edificação considerada importante, como uma Igreja.
Por outro lado, áreas com baixa visibilidade tendem a ser menos importantes dentro do conjunto, ou ainda a serem percebidas como áreas com maior privacidade, destinadas a atividades de interação de pequenos grupos ou casais, à leitura, etc. Além disso, um aspecto importante a ser considerado a respeito de áreas com baixa visibilidade é a possibilidade de criação de áreas com baixa segurança, pela maior dificuldade de vigilância por parte dos demais usuários do espaço (sobre isso, veja os posts sobre segurança que discorrem sobre as teorias de Jacobs e Newman).
Enfim, entender de uma forma mais completa as consequências de diversas configurações espaciais sobre as questões de visibilidade pode auxiliar o projetista a pensar espaços que efetivamente respondam às suas intenções, tanto quando elas são de valorizar certos elementos, quanto de criar espaços mais reservados. A localização de barreiras aos visuais podem mudar facilmente o “ranking” de visibilidade de um lugar, o que pode ser usado como auxílio às intenções arquitetônicas mas também pode, se não houver controle sobre o processo, prejudicar o que se pretendia alcançar.
Referências bibliográficas
HILLIER, Bill; HANSON, Julienne. The social logic of space. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
TURNER, Alasdair et al. From isovists to visibility graphs: a methodology for the analysis of architectural space. Environment and Planning B: Planning and Design, v. 28, p. 103 -121, 2001.
olá renato!
gostaria de parabenizar pelo site Urbanidades e te pedir referências de programas que fazem essas análises de sintaxe espacial. Já ouvi falar do Depth Map, o Jass e o Mindwalk. Vocês conhece algum deles?
Olá!
Hoje em dia recomendo o Depthmap, que é o software “oficial” do laboratório que criou a sintaxe espacial e recentemente tornou-se código aberto:
https://github.com/SpaceGroupUCL/Depthmap/downloads