Numa análise dos usos do solo, a primeira coisa a ser identificada é a escala de análise. Dependendo dela, as categorias de uso do solo serão mais ou menos específicas, indo desde classificações bastante genéricas (envolvendo, por exemplo, a diferenciação entre usos urbanos e rurais), até classificações detalhadas (incluindo diferenciação entre residencial unifamiliar e multifamiliar).
A tabela abaixo dá um exemplo de esquemas de classificação dependendo da escala de análise.
Quadro 1 – Classificação de usos do solo. (Fonte: KAISER; GODSCHALK; CHAPIN, 1995, p. 207)
A American Planning Association desenvolveu um padrão interessante para o mapeamento e classificação do uso do solo . Esse padrão baseia-se em 5 dimensões ou categorias de análise, classificando os usos do solo segundo:
- as atividades desempenhadas (residencial, comercial, industrial, etc.);
- a função (econômica) a que servem;
- o tipo de estrutura da edificação;
- o estado de utilização do lote ou gleba (ocupado, não ocupado, etc.);
- a propriedade (público, privado, etc);
Aparentemente, as categorias mais úteis são as relativas às atividades, à utilização do lote ou gleba e à propriedade. As outras duas são muito parecidas com a dimensão Atividade, não ficando muito claro quais são as reais diferenças e a utilidade de sua especificação.
Interessante notar que a classificação vem com uma padronização das cores a serem utilizadas, inclusive com os códigos RGB, CMYK, etc. correspondentes, como pode ser visto no Quadro 2 abaixo.
Quadro 2 – Codificação de cores para a dimensão “Atividade” (Fonte: LBSC Standard – APA)
Na verdade, o estudo dos usos do solo só faz pleno sentido quando feito considerando-os no seu conjunto, isto é, na relação de um tipo de uso com os outros usos. Entretanto, para facilitar o entendimento é útil analisarmos os usos separadamente, para que depois seja possível tirar as conclusões sobre as interações (ou falta dela) entre eles.
Usos residenciais
De todos os tipos de usos, o residencial é o que ocupa mais espaço, entre 30 e 50% de toda a área construída (KAISER; GODSCHALK; CHAPIN, 1995). Por isso, deve-se planejar esse tipo de área de modo a criar alternativas que contemplem valores, necessidades e possibilidades diferentes, ou seja, assumir a diversidade inerente às populações urbanas e evitar a segregação. Além disso, é necessário garantir que essas áreas estejam bem conectadas entre si e com o resto do tecido da cidade.
No levantamento e mapeamento de áreas residenciais, é comum adotar uma classificação baseada na densidade e na tipologia, conforme os dois exemplos já mostrados.
Em síntese, as funções das áreas residenciais são as seguintes (KAISER; GODSCHALK; CHAPIN, 1995, p. 341):
1. Abrigo – função tradicional da habitação, e que inclui também os serviços considerados essenciais à sua manutenção, tais como água, esgoto, energia, etc.
2. Segurança – fornecer um ambiente seguro, estável e ordenado, longe dos perigos do tráfego, violência, crime e outras ameaças físicas e psicológicas.
3. Ambiente adequado às crianças – ser um local no qual as crianças possam crescer contando com os valores da família, com a interação com vizinhos, escolas e espaços públicos.
4. Identificação simbólica – promover o sentido de lugar, de pertinência, orgulho e satisfação com seu local de moradia.
5. Interação social – promover as relações sociais através de redes de contato, instituições e equipamentos comunitários.
6. Lazer – fornecer recreação, entretenimento, equipamentos culturais e educacionais e espaços de lazer.
7. Acessibilidade – prover acesso ao emprego, comércio e serviços necessários para a manutenção da habitação, bem como para opções de lazer e entretenimento em escala municipal e regional.
8. Investimento financeiro – funcionar como investimento para o proprietário de modo a lhe proporcionar segurança ou a possibilidade de realizar outros investimentos.
9. Eficiência dos recursos públicos – contribuir para a eficiência na alocação dos recursos públicos principalmente no que diz respeito à implementação de infra-estrutura, evitando sobrecarga e subutilização.
Essas funções podem ser utilizadas como critérios de análise. Até que ponto cada um destes pontos é atendido na área de estudo? As respostas a essas perguntas podem embasar uma análise de áreas residenciais. É preciso, no entanto, ter em mente que a importância de cada um dos critérios é relativa, mudando de acordo com a área e com as características socioeconômicas e culturais da população.
A acessibilidade, por exemplo, pode ser mais importante nas áreas carentes, cujos moradores dependem de transporte coletivo para se deslocar, do que nas áreas mais ricas, em que a quase totalidade dos moradores dispõe de automóveis particulares. Levantar esses diferentes graus de importância também é importante para o entendimento do problema e uma correta análise urbana.
Usos comerciais e de serviços
A localização dos usos comerciais e de serviços também é essencial numa análise de uso do solo. Esses usos oferecem suporte a uma série de atividades humanas e, além disso, são responsáveis por uma grande porcentagem da oferta de empregos. Portanto, sua localização dentro do tecido urbano exerce influência decisiva na quantidade e na qualidade dos deslocamentos diários entre residência e trabalho.
Campos Filho (2003) propõe uma classificação baseada no raio de abrangência do comércio ou serviço para realizar sua análise.
O primeiro nível é composto pelos comércios e serviços de apoio direto ao uso residencial, e de freqüência de utilização diária ou semanal. Inclui o açougue, a padaria, a quitanda, o boteco, etc.
O segundo nível são aquelas atividades utilizadas menos freqüentemente e que, por isso, tendem a se localizar um pouco mais distante das habitações, nos centros de bairro mais consolidados. Inclui a loja de sapatos, o supermercado, etc.
O terceiro nível são aquelas atividades mais especializadas, cuja freqüência de utilização é muito baixa (semestral, anual ou ainda menor) e por isso, tendem a se localizar em áreas de grande acessibilidade para a cidade como um todo. Inclui relojoarias, revendas de automóveis, equipamentos industriais, etc.
Cada tipo de atividade comercial apresenta algumas características que definem sua localização mais adequada.
Exemplos de questões a serem respondidas numa análise dos usos comerciais:
- Quais são os tipos de comércio e serviços predominantes?
- Qual o raio de abrangência dessas atividades?
- Qual a sua relação com o tecido urbano, principalmente com as residências e com a cidade como um todo?
- Como essas áreas estão distribuídas pela cidade e quais as conseqüências desse padrão de distribuição para o padrão de deslocamentos (principalmente deslocamentos entre moradia e empregos)?
- O nível dos usos comerciais em um determinado local está de acordo com seu caráter? (Ex.: usos comerciais de impacto em locais eminentemente residenciais)
Usos industriais
As indústrias também são responsáveis por uma grande quantidade de empregos. Por isso, assim como os usos comerciais, exercem grande influência nos deslocamentos diários nas cidades. Além disso, possuem grande potencial de incomodidade causado por fatores como os deslocamentos, descritos acima, e pela geração de resíduos e de ruídos, o que demanda uma atenção especial quanto à sua localização. Apesar disso, esse quadro vem se modificando (LEUNG, 2002) em função do advento das indústrias limpas.
Os locais mais apropriados para o uso industrial são aqueles que:
- Possuem baixa declividade;
- Possuem acesso direto a meios de transporte (rodovias, aeroportos, portos), dependendo do tipo de produto e de seu principal canal de escoamento;
- Possuem facilidade de acesso a partir das áreas residenciais, de modo que o tempo de deslocamento dos empregados não seja exagerado, possuindo acesso às linhas de transporte ou aos grandes canais de escoamento viário;
- Estão próximos de outros serviços ou indústrias que lhes sejam complementares;
- São compatíveis com os usos do entorno, principalmente para aquelas indústrias que produzem ruídos, odores, fumaça, tráfego, substâncias perigosas e que armazenam resíduos;
- Que possuem um local para o pré-tratamento de dejetos eventualmente produzidos pela indústria;
Referências bibliográficas
CAMPOS FILHO, Candido Malta. Reinvente seu bairro. São Paulo: Editora 34, 2003.
KAISER, Edward J.; GODSCHALK, David R.; CHAPIN, F Stuart. Urban land use planning. Urbana: University of Illinois Press, 1995.
KELLY, Eric; BECKER, Barbara. Community planning: an introduction to the comprehensive plan. Washington: Island Press, 2000.
LEUNG, Hok-Lin. Land use planning made plain. Toronto: University of Toronto Press, 2002.
boa tarde,
gostei bastante sobre o artigo que você publicou referente ao uso do solo, gostaria de saber se você tabém possui algum material sobre a acomodação do solo apos construções e aterramentos pois é um tema atual e pouco mencionado. Obrigada!
Sobre tbm o uso do solo urbano institucionais?